quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Obviedades I


Há um ditado que diz que só paramos de aprender ao fecharmos os olhos pela última vez. É certo que, por motivos específicos, o dizer não se aplica a alguns indivíduos, mas não é deles que este post trata.

As árvores crescem na direção em que melhor podem aproveitar a luz solar, aprendemos lá na escola. Elas não o fazem porque uma decide sobre o crescimento da vizinha, que faz o mesmo com a seguinte. Se posso assim dizer, cada uma simplesmente segue um princípio que lhe é vital; se tiverem de tomar outro lado ao crescer, tomam. Ao seguirmos a vida, refazemos algumas opiniões, não porque, como se costuma dizer, viramos a casaca, ao contrário, há ocasiões em que, por mantermos alguns valores inalterados, descobrimos uma melhor forma de proceder. Tais ajustes de rota nem sempre são fáceis. Podem ser dolorosos a quem é dependente da unânime aprovação alheia por haverem perdido a auto-confiança. Podem ser impossíveis para os que não entendem que uma opinião oposta à sua pode até ensiná-lo mais sobre um princípio que já defendia há muito tempo. Triste é quando vemos os primeiros se consumirem em se convencer ou serem aplaudidos e os últimos se desgastarem em esconjurar o próximo e ou convertê-lo forçosamente.

(A despeito da metáfora, não virei leitor de obras de auto-ajuda, não gosto, e nada contra quem lê.)

domingo, 9 de agosto de 2009

Primeiro fim de semana da nova lei antifumo

Desde a última sexta-feira, valem em todo o Estado de São Paulo as novas restrições ao ato de fumar em ambientes de uso coletivo, estabelecidas pela
nova lei antifumo. Não deixa de ser curioso que essa lei tenha começado a viger bem em um fim de semana, quando comumente é maior o movimento nos bares, baladas e afins.

Nos bares, espalharam pelas paredes afora o logotipo da lei, o mapa do estado formando um sinal de proibido fumar. E nem as mesas da calçada escaparam, espetaram o logotipo nos galhos das árvores próximas às mesas. Se um freguês levava a mão ao maço de cigarros, o garçom apontava com o indicador na direção da árvore que ostentava o aviso. Quem tentou negociar a proibição com uma conversinha, ouviu do garçom que, mesmo estando as mesas do lado de fora do bar, era aquele um ambiente de uso coletivo cedido ao uso do bar, o estabelecimento seria prejudicado se alguém fumasse ali, etc. Quem quisesse fumar, deveria descer o meio-fio. Assim alguns fizeram, aí a dificuldade era arrumar um lugar junto aos carros estacionados sem se jogar na frente dos veículos que passavam pela avenida.

Mas todos sabemos que com criatividade se vence melhor os obstáculos da vida. Houve um sujeito que atravessou a pista carregando consigo uma cadeira, chegou no canteiro central, instalou a cadeira embaixo da árvore e ali ficou folgadamente a aproveitar seu cigarro. Em pouco tempo outros amigos da confraria se achegaram.

Na esquina, um grupinho de fumantes se sociabilizava entre um cigarro e outro, mas sempre abaixo do meio-fio, nada de fumar na calçada. De vez em quando, alguém caminhava ao longo da frente do bar por entre as mesas com o cigarro aceso, talvez só para desfilar mesmo, tanto que sossegaram o facho quando viram que fregueses e garçons ignoraram solenemente a exibição.

Como infelizmente sobram neste mundo os espíritos de porco, houve quem driblou a lei de forma ignominiosa e, covardemente, foi fumar no banheiro. Como se a catinga se dissipasse ao jogar a bituca na privada e acionar a descarga, tsc tsc tsc... E o próximo ocupante do cubículo que se virasse para respirar lá dentro.

Como não-fumante, só tenho a elogiar os efeitos imediatos da lei. Não respirei fumaça fedorenta, minhas roupas não voltaram catingando a nicotina. Não obstante ser um beneficiado, sinceramente, eu questiono um pouco o método. Ficou uma coisa meio AI-5, se é que ainda há brasileiros nascidos pós-79 que saibam o que foi isso. Além disso, falta muito para que os ares desta Vila de Piratininga deixem de ser nocivos aos pulmões dos moradores, havendo ou não cigarros acesos pela rua afora. Os governantes até podem alegar que, para resolver isso, implantaram a tal da inspeção veicular ambiental e que também se estuda cobrar pedágio para trafegar no centro em dias de alta poluição do ar. Fingem que o problema pode se resolver com soluções-nas-coxas, pois é mais fácil do que colocar de fato o dedo na ferida.


São Paulo vista a partir da Serra da Cantareira - Maio/2009