segunda-feira, 29 de junho de 2009

Ainda vales ouro

Sim, ultimamente vens perdendo adeptos. Incômoda, tua mudez soa-lhes intolerável. Evitam continuamente a ti, mesmo quando estão sozinhos, apelam a todo artifício, modernas engenhocas que também privam terceiros de tua companhia. Encaremos a verdade, ficaste anacrônico! Tens imensa lista de concorrentes muito mais sedutores a esses pobres. Acaso não te ocorreste a ideia do quanto te tornaste inconveniente a todos eles? Eis que belos autômatos, absortos em sua loucura, sua aflição os fagocita sem qualquer oposição.

Mesmo eu, desde tenra idade teu entusiasta, admito haver provado uma gota da tua aridez de que tanto se queixam. Também conheci a tormenta com que costumas agitar-nos algumas noites. Todavia não permiti que se dissipasse a estima que tenho por ti, deixei-a encerrada naquele tosco baú ocasionalmente aberto se nos encontrávamos pelas trilhas da vida. Aquiesci, então, com outra chance, e a recompensa foi sublime! Trouxeste-me valiosíssimo tesouro, quem eu já não procurava há muito, voz que demorei a reconhecer e que levou ao colapso toda resistência que ainda se armava. Generosa, sorriu-me nos olhos. Amorosa, tocou-me o peito. Acolhedora, reconfortante abrigo em que novamente descansei. Agora percebo com maior clareza – tu que me levaste a ela.

Como entender os que aparentam uma pontinha de orgulho em te expulsar até das madrugadas frias desta metrópole? Insaciáveis, já tentam banir-te das vilas cravadas nas serras mais remotas. Néscios! Encaro a todos pesaroso. Respeitarei, contudo, sua decisão de continuarem a ferir seus ouvidos.

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