segunda-feira, 6 de abril de 2009

Brasileiros desde criancinha

Ao lado do edifício em que resido funciona uma escola particular, ali estabelecida há quase cento e vinte anos. Como as janelas do apartamento são voltadas ao pátio da escola, me habituei rapidamente a um costume seu de toda segunda-feira: o hasteamento da Bandeira Nacional devidamente acompanhado pela execução do Hino Nacional Brasileiro. Afora o pieguismo - meus olhos se enchem d'água em determinados versos do poema, quem dera fosse por ufanismo - de fato julgo se tratar de um momento muito precioso. E hoje me surpreendi, pois a chuva que caía nesta manhã não impediu a realização do momento cívico. Não houve hasteameno, mas executaram o Hino com as crianças abrigadas num pedacinho coberto do pátio.

Perguntaria o leitor onde está o motivo da surpresa. Sejamos honestos, em quantas escolas particulares hoje assistimos, pelo menos, a execuções do Hino Nacional com alguma frequência? Há aquelas que ainda o fazem na véspera do 7 de setembro, outras poucas pelo 15 de novembro. Pelo 21 de abril, então, se bobear só em Minas e olhe lá. Aliás, quem acerta o que se comemora nas três datas supracitadas sem titubear?

Sobre o desprezo para com o 7 de setembro já escrevi em 2007, quando ao andar por toda a extensão das Marginais Tietê e Pinheiros não vi uma referência sequer às cores nacionais no dia da Independência. Na verdade, tudo culpa nossa mesmo, tem gente que ignora a existência da lei que regula execuções do Hino, hasteamentos da Bandeira, uso das Armas Nacionais. E já que falamos nela, a Lei Federal 5.700/71, está lá em seu Art.14: "Nas escolas públicas ou particulares, é obrigatório o hasteamento solene da Bandeira Nacional, durante o ano letivo, pelo menos uma vez por semana."

Temos a lei, não a fazemos valer e depois reclamamos que não zelamos pelas instituições nacionais, pelo estado brasileiro, que não nos vemos como nação, etc etc etc. E como a lei que já existe não é cumprida, estão tratando de criar outra (Projeto de Lei 4627/09) para corrigir a redação da atual e tornar obrigatória e diária a execução do Hino Nacional nas escolas. A alegação principal do deputado que propõe a alteração é que notamos vários de nossos jogadores ficarem de boca fechada durante a execução do Hino na abertura dos jogos de futebol, inclusive os que ainda se dão ao trabalho de simular movimentos labiais na tentativa risível de camuflar para as câmeras de televisão o desconhecimento da letra.

Ainda que por motivo louvável, parece-me a iniciativa do deputado um desperdício de energia. Podia-se gastar os mesmos esforços em fazer cumprir o que já está estabelecido desde 1971 - execuções pelo menos semanais. Seria suficiente para evitar a difusão de outro péssimo hábito que já presenciei em muitos eventos oficiais: a patética salva de palmas terminada a execução do Hino, também proibida pela lei de 71. E nada garante que essa "nova" obrigação será cumprida; o que a impediria de se tornar letra morta como a atual?

Somos de fato patriotas muito desleixados. E se decorar o Hino Nacional não torna ninguém obrigatoriamente cidadão participativo e consciente, os que não têm alguns hábitos cultivados desde cedo também não vão encarnar por milagre o espírito cívico ao tirar o título de eleitor, que será só mais um de outros mil documentos que a burocracia nos cobra para não nos travar a vida.

Um comentário:

Patricia disse...

Não, então eu NÃO estava errada em não aplaudir após o Hino. Eu aprendi assim, mas acho que poucos de nós recebemos tal instrução.